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Superbactérias: Secretaria de Saúde agora mira nos profissionais de saúde

Um relatório da Secretaria de Saúde do Distrito Federal (SES-DF) usado como base para o plano de contingência contra as superbactérias aponta, entre outras irregularidades, que a higiene das mãos é feita por menos de 30% dos profissionais de saúde. Servidores de enfermagem da rede pública do DF indignaram-se com a informação.

“A Secretaria de Saúde quer jogar para o profissional uma culpa que não é dele”, critica o presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (Coren-DF), Gilney Guerra. Ele aponta que o foco do problema está na falta de materiais e medicamentos, como equipamentos de proteção individual e antibióticos, além do deficit de profissionais. “Nós já notificamos a secretaria várias vezes com relação ao dimensionamento de enfermagem”, explica.

Em nota, o Sindicato dos Médicos do Distrito Federal (Sindmédico-DF) também rebateu o posicionamento da SES-DF, afirmando que a pasta tenta furtar-se da responsabilidade pelos casos infecciosos em unidades públicas do DF. “Se a proliferação desenfreada de infecções por bactérias multirresistentes fosse provocada simplesmente porque profissionais deixam de lavar as mãos, o atual quadro seria permanente e não uma endemia como a atual”, rechaça.

O estudo da Secretaria de Saúde indicou ainda que os produtos de limpeza têm pouca eficácia e o fornecimento dos equipamentos de proteção individual é irregular e de baixa qualidade. “Luvas talcadas, capotes fora do padrão e para banho sem capotes impermeáveis (sic)”, detalha um trecho do levantamento. A coordenadora de infectologia da SES-DF, Maria de Lourdes Lopes, admitiu que a situação de múltiplas irregularidades já é conhecida pela pasta.

 

Máquinas quebradas e materiais em falta

Na última segunda-feira, a central de materiais esterilizados (CME) do Hospital Materno Infantil de Brasília (Hmib) ficou fechada pela manhã, pois as máquinas de esterilização estavam quebradas. O Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem (Sindate) revelou que os funcionários transportavam inadequadamente os instrumentos até o Hospital de Base do DF para limpeza e desinfecção. Jorge Vianna, vice-presidente do sindicato, destacou que, nessa situação, micro-organismos podem agir e contaminar o material, oferecendo riscos à população.

Durante visitas aos hospitais públicos, enfermeiras fiscais do Coren-DF recebem constantemente denúncias de falta de materiais e medicamentos, além dos problemas estruturais das unidades. Na pediatria do Hospital do Guará, a fiscalização constatou que faltava algodão, um insumo básico do setor. Situações semelhantes são encontradas nas visitas noturnas realizadas por conselheiros fiscais.

 

Uso de antibióticos

Segundo o Sindicato dos Médicos, há falta geral de antibióticos na rede pública de saúde do DF. Com isso, infecções que não são graves, mas requerem internação hospitalar, são tratadas com medicamentos indicados para casos mais complexos. “É de conhecimento geral que o uso indiscriminado de antibióticos de largo espectro provoca a seleção de bactérias multirresistentes”, explica o sindicato em nota.

“A falta de educação permanente nos hospitais também contribui para essa situação”, opina a enfermeira fiscal Ingrid Barros. Para a gerente de fiscalização do Coren-DF, Daniela Bonacasata, “as instituições precisam investir em manuais de normas e rotinas e em protocolos para padronizar a assistência de enfermagem e garantir a segurança do profissional”.

 

Denuncie 

Qualquer pessoa pode registrar denúncia no Coren-DF sobre irregularidades em instituições de saúde relacionadas ao serviço de enfermagem. O relato pode ser feito pelos formulários disponíveis no site do regional ou comparecendo ao departamento de fiscalização, na sede do conselho. O procedimento é sigiloso e a identidade do denunciante é preservada.

O Código de Ética dos Profissionais de Enfermagem estabelece como direito do profissional recorrer ao regional quando impedido de cumprir o código de ética, a legislação do exercício profissional e as resoluções e decisões do Sistema Cofen/Coren. Além disso, dispõe que é dever de todo profissional de enfermagem comunicar ao Coren fatos que firam preceitos do código de ética e da legislação do exercício profissional.

 

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