Médicos especialistas em gestação de alto risco fazem cirurgia inédita em bebê de 27 semanas — Foto: Arquivo pessoal
Uma bebê que ainda nem nasceu se tornou pioneira em um procedimento cirúrgico realizado no Distrito Federal. Ela foi operada nesta semana, ainda no útero da mãe, e recebeu um balão na traqueia para ajudar no desenvolvimentos dos pulmões.
A mãe, que está com 27 semanas de gestação, e a bebê passam bem. O procedimento foi realizado no Hospital Santa Luzia, da rede particular de Brasília, com o auxílio de um aparelho que tem uma câmera acoplada na ponta.
Segundo o obstetra Matheus Beleza, o músculo do diafragma da menina tem uma falha que precisava ser corrigida. “Colocamos um balão na traqueia do bebê para obstruir toda secreção que o pulmão produz e deixar o órgão expandir”, explicou o médico.
“O aparelho vai ajudar a desenvolver o pulmãozinho da bebê, ainda dentro da barriga da mãe.”
A cirurgia durou uma hora e meia e precisou que as duas pacientes fossem anestesiadas, pois a criança poderia sentir dor durante o procedimento.
Equipe de saúde que participou da cirurgia fetal na bebê de seis meses no DF — Foto: Arquivo pessoal
A equipe que conduziu a cirurgia é formada por um médico do DF e dois especialistas em gestação de alto risco vindos do Rio de Janeiro. De acordo com os médicos, o procedimento de cirurgia fetal já é feito pela rede pública do DF, mas esta é a primeira vez que é usado para este fim.
Malformação rara
A menina, que não teve o nome informado – a pedido da família – tem uma malformação no abdômen conhecida como hérnia diafragmática. O problema foi diagnosticado ainda nos primeiros meses de gestação, mas foi preciso esperar até o sétimo mês para realizar a cirurgia.
O médico Matheus Beleza explica que a patologia é considera “grave e rara” e, de acordo com a literatura médica mundial, acomete 1 em cada 4 mil bebês nascidos vivos.
“Os pulmões passam a ser comprimidos pelos órgãos da barriga e isso impede que eles se desenvolvam”.
Médico prepara instrumento para cirurgia em feto de seis meses — Foto: Arquivo pessoal
Apesar do procedimento delicado, a cirurgia não resolve o problema da malformação. Quando a mãe completar 34 semanas de gestação, a bebê passará por uma nova cirurgia fetal para a retirada do balão da traqueia.
Ao nascer, ela deve ser submetida a mais um procedimento, segundo os médicos, dessa vez para tentar corrigir o problema.
Caso semelhante
Em julho do ano passado, dois irmãos gêmeos também passaram por uma cirurgia ainda dentro do útero da mãe que estava com 24 semanas de gestação. A fetoscopia era, segundo os médicos, necessária para salvar a vida das crianças.
Os irmãos, unidos pela mesma placenta, precisaram ser separados durante a formação porque estavam com o desenvolvimento comprometido. Um deles recebia mais sangue e, com isso, “corria risco de sobrecarga cardíaca”, explicou a médica obstetra Larah Santillo.
Fetoscopia foi relaizada no Hospital Santa Helena, em Brasília; procedimento é inédito no DF — Foto: Rafael Nunes/Santa Helena
O outro bebê recebia os nutrientes em menor quantidade e “sofria com crescimento menor e possível anemia”, disse.
“Agora, os dois bebês se desenvolvem de forma independente, como gestações únicas nas quais não se compartilha a circulação.”
A cirurgia ocorreu no Hospital Santa Helena, também da rede particular de saúde do DF. O procedimento, apesar de delicado, foi considerado pelos médicos como “bem-sucedido”. A mãe, de 33 anos, e os filhos passam bem.