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Erotização da Enfermagem é desserviço às mulheres e estimula violência sexual

Nem mesmo a maior pandemia da história do Brasil foi suficiente para conscientizar as celebridades sobre a necessidade de respeitar o profissionalismo da Enfermagem. No último domingo, 31, foi a vez da atriz Bruna Marquezine usar as redes sociais para divulgar uma fantasia de “enfermeira sexy” para mais de 40 milhões de seguidores. Diante dos efeitos nefastos que esse tipo de atitude pode estimular, o Conselho Federal de Enfermagem (Cofen) manifesta repúdio à publicação da atriz e espera que ela se retrate, para evitar uma ação judicial.

Esse tipo de conotação sexual é inadmissível em um país misógino, machista e violento como o Brasil. O que pode parecer um gesto inofensivo, na verdade, contribui para erotizar a imagem de uma profissão que, historicamente, sofre com assédios, violências e abusos psicológicos de toda ordem. São 2,5 milhões de profissionais de Enfermagem no Brasil: 85% são mulheres. Praticamente todas elas têm alguma história de assédio moral ou sexual para contar. Uma realidade lamentável, que precisa ser combatida diariamente.

Enfermeiras são mulheres trabalhadoras que enfrentam longas jornadas de trabalho e recebem salários incompatíveis com o relevante serviço que prestam à sociedade brasileira. São profissionais que estão 24 horas por dia na beira do leito, ajudando a salvar a vida de pacientes por meio de um trabalho técnico, sério e dedicado. Como se não bastasse a difícil realidade que enfrentam, a maioria dessas mulheres é obrigada a lidar com piadas machistas, cantadas nojentas e abordagens grotescas por parte de assediadores e abusadores que, não raramente, partem para o abuso e a violência sexual.

Os dados são estarrecedores. A plataforma digital ‘Violência contra as Mulheres em Dados’ indica que 76% das mulheres já sofreram violência e assédio sexual no trabalho. Segundo o 13º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2018, foram registrados 66 mil casos de estupro no Brasil. De acordo com o IBGE, uma a cada cinco estudantes relata que já sofreu violência sexual. Em média, um estupro é registrado a cada oito minutos no país e o pior: as autoridades estimam que os dados estão subnotificados e podem ser até 10 vezes maiores.

Os efeitos secundários dessa realidade de abusos também são chocantes. De acordo com dados da pesquisa Condições de Trabalho dos Profissionais de Saúde no contexto da Covid-19 no Brasil, realizada pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), 15,8% dos profissionais de saúde sofrem com perturbação do sono, 13,6% relatam irritabilidade e choro frequente, 11,7% se diz incapaz de relaxar e com sensação de estresse, 9,2% está com dificuldade de concentração ou pensamento lento, 9,1% tem perda de satisfação na carreira ou na vida, 8,3% está com sensação negativa do futuro e pensamento negativo ou suicida e 8,1% enfrenta alteração no apetite e alteração de peso.

Definitivamente, sexualizar a profissão não é a resposta que a Enfermagem espera da classe artística, principalmente, depois de todo o serviço que foi prestado no combate à pandemia da Covid-19. Como uma mulher que, certamente, já sofreu assédio sexual no trabalho, esperamos que Bruna reconheça o erro e peça desculpas à categoria. A atriz pode contribuir muito na luta contra o assédio sexual e a violência de gênero que é praticada contra as trabalhadoras da saúde.

Fonte: Ascom – Cofen