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“Isso aqui é uma máquina de matar gente”, diz servidora do HRT

“Somos nós que precisamos de socorro! No sábado (3/6), só havia um profissional atendendo mais de 70 pacientes”. A denúncia sobre o caos no pronto-socorro do Hospital Regional de Taguatinga foi feita por um servidor, na porta da emergência, nesta segunda-feira (5/6). O Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (Coren-DF), os sindicatos dos auxiliares e técnicos de enfermagem (Sindate), dos enfermeiros (Sindenfermeiro) e dos empregados em estabelecimentos de serviços de saúde estiveram no local e ouviram relatos estarrecedores sobre a situação da unidade.

Os servidores do HRT denunciam que, na noite do último domingo (4/6), apenas duas enfermeiras atendiam mais de 25 pacientes no pronto-socorro. Não há monitores, bombas de infusão nem oxímetros suficientes para todos. “Tem respirador ofertando 17% de oxigênio. O máximo que eles ofertam é 30%”, detalhou uma funcionária. O nível de oxigênio no ar atmosférico é de 21%. A profissional relatou ainda que uma paciente entubada caiu de uma maca que estava quebrada. No Centro de Material e Esterilização (CME), operam apenas uma das quatro autoclaves e uma das duas termodesinfectoras do hospital – e nenhum desses equipamentos passa por manutenção há mais de três anos, de acordo com um servidor da área.

ala-verde-hospital-regional-taguatinga-3Profissionais de enfermagem reclamam que estão exercendo função de padioleiro e até acondicionando corpos em câmaras mortuárias devido à falta de pessoal de anatomia. “Todos os locais onde não tem servidor estão ficando para a enfermagem”, queixou-se uma funcionária. Outra informou que é frequente ter apenas dois técnicos de enfermagem na ala amarela, com 15 leitos, e um enfermeiro cobrindo ala amarela e verde, box de emergência, pediatria, farmácia, anatomia e sutura.
Os servidores apontam também que o número de óbitos no hospital está aumentando. “Tenho seis anos de pronto-socorro. Nunca ficamos com criança grave por mais de 48 horas. Hoje, nós ficamos 72 horas com ela. Você vê a evolução negativa do paciente. Quando tem vaga, não tem transporte. Quando sai transporte, o paciente não tem mais condições de ser transportado”, declarou uma servidora.

 

Problemas se arrastam

Em 2016, o Coren-DF e outros quatro conselhos profissionais fiscalizaram, em conjunto com o Ministério Público do Distrito Federal, oito hospitais públicos – o de Taguatinga foi um deles. Superlotação, desabastecimento de medicações e materiais, falta de contratos de manutenção dos equipamentos e de recursos humanos foram alguns dos problemas apontados.

A inspeção no HRT, realizada há pouco mais de um ano, registrou que “a superlotação na sala de emergência ocorre com frequência, por vezes chegam a permanecer na sala até 18 pacientes, não sendo respeitada a distância mínima entre os leitos, sem equipamentos de suporte para todos os pacientes e
equipe de enfermagem em quantidade insuficiente”.

No último sábado (3/6), a cena encontrada na fiscalização se repetiu. Imagens do box de emergência superlotada – a capacidade ali é de quatro leitos – superlotado circularam pelas redes sociais. Nesta segunda (5/6), quando conselhos e sindicatos estiveram no hospital, a situação de superlotação de pacientes e falta de profissionais de enfermagem era vista claramente na ala verde do pronto-socorro.

No corredor da ala verde do pronto-socorro, pacientes ficam no corredor e próximo aos banheiros
No corredor da ala verde do pronto-socorro, pacientes ficam no corredor e próximo aos banheiros

 

Atenção primária

A superintendente da região de saúde Sudoeste (que compreende Taguatinga, Samambaia, Recanto das Emas, Vicente Pires e Águas Claras), Lucilene Florêncio, relatou que o atendimento do HRT está mais pressionado devido aos pacientes que antes eram atendidos por planos de saúde, à aposentadoria dos servidores, além da sobrecarga e do adoecimento das equipes. Para ela, é preciso fortalecer a atenção primária a fim de desafogar o hospital.

Diretoria do Coren-DF e representantes de sindicatos se reúnem com direção do HRT e superintendente da região Sudoeste
Diretoria do Coren-DF e representantes de sindicatos se reúnem com direção do HRT e superintendente da região Sudoeste

O presidente do Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (Coren-DF), Gilney Guerra, objetou que “o servidor se aposenta, mas não há reposição” e apontou que as dificuldades da Secretaria de Saúde se resumem à falta de servidor, de insumos e de manutenção de equipamentos. Guerra criticou também o demorado estado de emergência na saúde do DF, que perdura por mais de dois anos sem demonstrar sinais de melhora no atendimento à população.

 

Chega de voz de prisão

A superintendente destacou também a incompreensão de profissionais do Corpo de Bombeiros e do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). “Se o hospital não recebe o paciente deles, eles fazem boletim de ocorrência e vêm com a polícia, dando voz de prisão”, criticou. A dirigente pediu que as entidades se reunissem com a diretoria de urgência e emergência, com os bombeiros e o Samu-DF para resolver a situação.

Para Lucilene, a capacidade instalada do Hospital Regional de Taguatinga precisa ser respeitada e que, diante da situação atual no pronto-socorro, deve ser aplicado o conceito de vaga zero, no qual, segundo a superintendente, cada região administrativa é responsável por seus casos. Ou seja, os atendimentos de pacientes da região Sudoeste serão feitos pelos hospitais de Taguatinga e Samambaia, por exemplo. Com isso, pretende que os servidores consigam prestar atendimento adequado.

Pacientes se amontoam na ala verde do pronto-socorro do Hospital Regional de Taguatinga. A imagem é desta segunda-feira (5/6)
Pacientes se amontoam na ala verde do pronto-socorro do Hospital Regional de Taguatinga. A imagem é desta segunda-feira (5/6)

 

Três dias

O vice-presidente do Coren-DF, Elissandro Noronha, propôs que o conselho e cada entidade (sindicatos e Conselho de Saúde de Taguatinga) inspecionem o HRT pelos próximos três dias e elaborem um relatório a ser entregue à Secretaria de Saúde, ao Ministério Público do DF e ao Conselho de Saúde do DF. O grupo inicia o trabalho já na manhã desta terça-feira (6/6).

Para o presidente Gilney Guerra, é a última tentativa antes da judicialização do caso. “Não aguento mais ir em hospital e não ter solução”, desabafa. Nos últimos cinco anos, foram abertos três processos administrativos de fiscalização relativos ao HRT: centro obstétrico; pronto-socorro adulto e infantil; unidade de terapia intensiva neonatal, unidade de cuidados intermediários, pediatria e banco de leite humano.

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