O que procura?

Encontre serviços e informações

Metrópoles divulga informação falsa e revolta enfermagem do DF

Metrópoles manteve matéria falsa no ar por quase uma semana
Reprodução de parte da matéria publicada pelo site Metrópoles

Fiscais do Conselho Regional de Enfermagem do Distrito Federal (Coren-DF) estiveram no Hospital Regional de Taguatinga (HRT) na tarde desta quarta-feira (21/9) e verificaram ser falsa a informação de que uma enfermeira teria “estourado” a veia de um bebê de 8 meses, divulgada pelo site Metrópoles na última quinta-feira (15/9). A matéria causou revolta entre profissionais de enfermagem do Distrito Federal.

A coleta de sangue foi realizada por uma técnica de laboratório no pronto-socorro infantil do hospital, na noite de 13 de setembro. Ela relatou à supervisora de enfermagem da pediatria que fez o procedimento normalmente e que precisou puncionar duas vezes, pois a criança tinha veia difícil e se movimentava muito. “Colhi com seringa e agulha padrão fornecida pela Secretaria de Saúde. Quando tirei o sangue, não teve nenhuma aparência de extravasamento sanguíneo nem sinal de qualquer hematoma”, detalhou a servidora. Um cirurgião vascular descartou a hipótese de lesão arterial.

A mãe, Alexandra Teixeira, confirmou à equipe de fiscalização do conselho que divulgou a foto do braço machucado do menino em um grupo de mães no Whatsapp e que, com seu consentimento, outra integrante repassou o relato e a imagem ao site noticioso. “Eu escrevi que foi uma enfermeira [que rompeu a veia do bebê], mas eu não sabia que não era. Eu acho que todas são enfermeiras”, admitiu, abalada.

Alexandra disse que compartilhou a situação no grupo por ter ficado assustada com as lesões no braço do filho, que começaram a aparecer no dia seguinte ao atendimento (14/9), à tarde, e esclareceu que falou com o repórter do Metrópoles apenas por telefone. Até o momento da publicação deste texto, o veículo não retornou os pedidos de entrevista feitos pela assessoria de imprensa do conselho por telefone e e-mail.

A gerente de enfermagem do hospital, Neuzimar Xavier, informou que uma pediatra também realizou punção no braço esquerdo do bebê e, mesmo realizando o procedimento corretamente, surgiram hematomas. De acordo com avaliação feita com hematologista, disponível no prontuário eletrônico, há a suspeita de que a criança sofra de algum problema na coagulação sanguínea.  Para a equipe de fiscais, é precipitado afirmar que houve um erro na assistência sem conhecer o quadro clínico do paciente.

 

Enfermagem reage

“É de uma irresponsabilidade inacreditável que um repórter não se dê ao trabalho de fazer o fundamental de seu ofício: apurar a informação, checar, confirmar”, criticou o presidente interino do Coren-DF, Elissandro Noronha. A matéria publicada pelo Metrópoles foi alterada na noite desta terça-feira, após as fiscais do Coren-DF terem ido ao HRT e conversado com a equipe de enfermagem e a mãe do bebê.

Metrópoles alterou matéria depois que fiscais do Coren-DF estiveram no hospital
Metrópoles alterou matéria depois que fiscais do Coren-DF estiveram no hospital

“Quase uma semana depois de o Metrópoles ter publicado uma matéria falsa, o repórter troca ‘enfermeira’ por ‘técnica de laboratório’ e não faz nenhum tipo de retratação. Nossa categoria é exposta dessa maneira e o veículo não pede desculpas pelo erro grosseiro?”, reagiu o tesoureiro do conselho, Adriano Araújo.

Para o procurador-geral do conselho, Jonathan Rodrigues, “a atividade jornalística deve ser livre para informar a sociedade sobre fatos de interesse público, em observância ao princípio constitucional do Estado Democrático de Direito. Contudo, o direito de informação não é absoluto, não se pode divulgar notícias falaciosas, que exponham indevidamente a intimidade ou acarretem danos à honra e à imagem dos indivíduos, em ofensa ao princípio constitucional da dignidade da pessoa”.

O vice-presidente interino do Coren-DF, Wellington Antônio da Silva, lamentou que ainda exista desconhecimento de quem integra a equipe de assistência. “Para os leigos, só existem dois profissionais na saúde: o da medicina e o da enfermagem. O que me causa surpresa é um veículo de comunicação – que deveria ser formado por profissionais capacitados – desconhecer que a enfermagem é composta por enfermeiro, técnico e auxiliar de enfermagem, cada um deles com atribuições diferentes. Somos capacitados, conhecemos nossas atribuições e nossos deveres, diferentemente desse jornalista”, condenou o diretor.

“Um profissional de enfermagem tem suas atividades fiscalizadas pelo conselho. Ele responde perante a lei por possíveis atos de negligência, imprudência e imperícia. Quando uma situação dessas vai a público, o conselho precisa apurar. Quem fiscaliza um técnico de laboratório ou um cuidador de idoso, por exemplo? Não são profissões regulamentadas em lei, não estão sob fiscalização”, contestou a enfermeira fiscal do Coren-DF, Juscélia Rezende.

Junto com o corpo jurídico do conselho, os diretores avaliam as medidas cabíveis contra o veículo. Eles já decidiram promover uma sessão de desagravo público no Hospital Regional de Taguatinga. A data será marcada com a direção do HRT e demais envolvidos no caso.

 

Leia também a nota de repúdio dos conselheiros do Coren-DF.

Comments are closed.