Depois das declarações sobre a convocação extraordinária da Câmara Legislativa que deixaram deputados distritais incomodados, Ibaneis Rocha (MDB) passou a manhã ontem em compromissos em hospitais públicos e pisou no freio no discurso. O governador disse que não pensa mais em processar parlamentares para responsabilizá-los por eventuais mortes provocadas pela demora no atendimento na rede pública. E garantiu acreditar que tanto os deputados da base quanto os da oposição querem o melhor para os brasilienses.
Ibaneis, no entanto, não vai recuar na disposição de ressaltar a necessidade de aprovação urgente de várias medidas, especialmente as relacionadas à saúde. Na pauta da convocação extraordinária, está a ampliação para outras unidades do modelo de gestão do Instituto Hospital de Base, tema que deve despertar muito debate entre os distritais. “A Câmara é um ambiente para discussão. E eu não espero que o projeto saia da forma que entrou”, disse. “Espero que eles, como deputados, façam o debate com a sociedade e indiquem as modificações que acharem necessárias. Em um ambiente democrático é isso que acontece”, acrescentou.
Sobre a relação com os sindicatos, que são críticos à ampliação do Instituto Hospital de Base, o governador deixou claro que não quer confronto. “É uma proposta do governo, mas estou aberto a todo tipo de discussão. Conheço os dirigentes sindicais, conto com a confiança de todos. Que, em vez de vir para a greve, venham para a negociação. Tragam suas propostas”, sugeriu.
Ibaneis garantiu que vai acatar as sugestões que aperfeiçoem o projeto. Ressaltou ainda que as declarações da véspera não foram uma ameaça aos deputados, mas que diante da situação da saúde no DF, “é uma irresponsabilidade não tratar o tema como urgência”.
Ibaneis havia dito que entraria com ações contra deputados e não faria mais nenhuma nomeação para cargos, enquanto a Câmara Legislativa não votasse as propostas do Executivo.
O tom do governador repercutiu bastante entre deputados distritais. Até então, havia uma negociação fechada para que a convocação ocorra na próxima quinta-feira, quando 17 dos 24 deputados estarão em Brasília, o que garantirá um quórum para votação das matérias.
Desabafo
A 11 dias para início oficial das atividades na Câmara, Ibaneis tenta convocar sessão extraordinária. Mas enfrenta resistência de deputados da oposição e agora terá de vencer animosidade que surgiu entre os integrantes da base, que se sentiram cobrados.
O presidente da Câmara, Rafael Prudente (MDB), ressalta que o embate entre os poderes não resolverá problemas. “Se o ambiente não for para construção, vamos reavaliar se manteremos ou não a possibilidade da convocação”, destacou.
Sobre as alegações do colega de partido, Rafael disse que Ibaneis exagerou nas palavras em um momento de exaltação. “Após os ânimos se arrefecerem, o governador vai voltar atrás e vai dialogar com os deputados”, acredita, como, de fato, ocorreu ontem.
O vice-presidente da Câmara, Rodrigo Delmasso (PRB), acredita que as manifestações do governador demonstram a urgência em aprovar projetos em benefício da sociedade. “Defendo o modelo do Instituto Hospital de Base desde a última gestão. A única alteração que faria, seria manter a contratação de servidores por concurso público”, ressalta.
O distrital, que está em viagem aos Estados Unidos, diz que não poderá participar da sessão extraordinária, caso ocorra, mas que apoia a convocação.
Em nota, o líder do governo na Câmara, Cláudio Abrantes (PDT), frisou que a convocação dos parlamentares é necessária.”Há pontos importantes a serem discutidos, que afetam a vida da população”, disse. Para Abrantes, é necessário dar “um choque na saúde, que está em colapso”.