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Brasil pode ter epidemia de chikungunya no verão de 2017

“O Brasil está prestes a viver uma grande epidemia de chikungunya no verão de 2017”, afirmou o subsecretário de Vigilância em Saúde do Rio de Janeiro, Alexandre Chieppe, durante o seminário “Chikungunya: atualização clínica”, realizado em 16 de agosto no Instituto Nacional de Infectologia (INI/Fiocruz). O evento contou com a presença de especialistas e pesquisadores para tratar dos mais diferentes aspectos da doença que, assim como a dengue e a zika, é transmitida pelo mosquito Aedes aegypti.

A chikungunya ainda não tem cura e é conhecida por causar febre e dores intensas nas articulações de pés e mãos, dedos, tornozelos e pulsos, podendo ocorrer também dores de cabeça e musculares, manchas vermelhas na pele, entre outros sintomas. “Em busca de ampliar o conhecimento acerca da tríplice epidemia (dengue, zika e chikungunya), a Fundação Oswaldo Cruz vem realizando, continuamente, uma série de eventos sobre essas doenças, envolvendo todo seu corpo de pesquisadores, docentes e alunos. Nossa intenção é potencializar o SUS como uma grande plataforma de pesquisa, de base de dados e informações para alcançarmos evidências científicas de um campo pouco conhecido por todos”, destacou o vice-presidente de Ambiente, Atenção e Promoção da Saúde da Fiocruz, Valcler Rangel.

“Nós discutimos neste seminário os diversos aspectos da chikungunya, indo desde a epidemia como um todo, suas abordagens clínicas, tanto para o adulto quanto para as crianças, a fase aguda, subaguda e crônica da doença, e percebemos que há mais dúvidas do que respostas propriamente ditas. Temos que pensar em como progredir para melhorar a assistência da população e avançar no conhecimento científico e prático para combater a epidemia que está por vir”, ressaltou André Siqueira, pesquisador do laboratório de pesquisa clínica em doenças febris agudas do INI.

(Imagem: Instituto Nacional de Infectologia)
(Imagem: Instituto Nacional de Infectologia)

De acordo com a representante do Ministério da Saúde, Lívia Vinhal, em 2016, foram notificados pelo Ministério da Saúde mais de 170 mil casos de chikungunya em todo o país (dados válidos até o mês de julho), com 38 óbitos confirmados pela doença, sendo a região Nordeste a que reúne o maior número de casos. Segundo a Organização Pan-americana de Saúde (Opas), o Brasil concentra 88% dos casos confirmados da doença nas Américas.

 

Chikungunya no INI

Para exemplificar os números do INI, vice-diretora de Qualidade e Informação do instituto, Marilia Santini, mostrou dados de casos suspeitos de arboviroses notificados na unidade, revelando o aumento com relação à chikungunya. O INI recebeu 733 casos em 2015, confirmando, através de exames, 322 deles (39,7% dengue, 57,7% zika e 2,48% chikungunya). Em 2016, até o mês de agosto, o Instituto Nacional de Infectologia contabilizou 780 casos, sendo 382 deles confirmados. Desse total, 73,29% foram chikungunya, 4,18% dengue e 22,5% zika.

“Esses números revelam que devemos ter uma real preocupação com a chikungunya. Temos aqui a oportunidade de trabalhar uma série de estudos e ações futuras sobre o conjunto de mecanismos (fisiopagotenia) que resultam na síndrome dolorosa pós-infecção. Gostaria muito de fazer ressonância nas mãos das pessoas, porque tenho certeza de que encontraremos algo que será útil para todos. Além disso, temos que pensar na ampliação dos ensaios clínicos para avaliar a eficácia e a segurança de diferentes tratamentos da síndrome dolorosa pós-infecciosa e melhorar a caracterização dos aspectos epidemiológicos e clínicos de quadros neurológicos”, afirmou Marilia. A vice-diretora do INI também disse ser fundamental a realização de diagnósticos mais rápidos para a doença pois, com uma epidemia sendo anunciada, não há como sobrecarregar ainda mais os laboratórios com exames.

 

Sequelas crônicas

Muitas vezes incapacitante, a chikungunya pode se sobrepor a uma doença inflamatória pré-existente na pessoa infectada, causando assim a reativação de uma dor antiga ou, muitas vezes, seu agravamento, causando quadros de artralgias e poliartralgias agudas (dores nas articulações do corpo) e sinovites (inflamações nos revestimentos dessas articulações) intensas. Os casos são tratados com anti-inflamatórios e corticoides, conforme a necessidade. “Entretanto, temos que levar em conta que, no caso de doenças reumáticas, estas se manifestam de formas diferentes nas pessoas, e a história pregressa de cada paciente é fundamental para enfrentarmos da melhor forma o problema e prescrever a medicação corretamente”, informou o reumatologista e pesquisador do INI, Roberto Fiszman.

Estudos revelam que pelo menos 20% dos casos deixam sequelas crônicas, como artrites e artroses, naqueles que tiveram chikungunya. E Roberto corrobora esses números ao afirmar, a partir de sua experiência profissional e de pesquisas realizadas, que a pessoa que não ficar efetivamente curada de uma artrite reumatoide decorrente da chikungunya após seis semanas de tratamento, sofrerá com a doença pelo resto da vida. O médico crê ser necessária a adoção de um protocolo padrão mais simples para a rede de atenção primária em saúde, de forma a trazer um menor número de medicamentos para o tratamento da doença, sempre pensando no equilíbrio entre a potência dos remédios e a tolerância dos pacientes.

 

Epidemia 2017

Ainda na questão da elaboração de um protocolo, Cristina Lemos, representante da Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, destacou que o país deveria incluir dengue, zika e chikungunya em um mesmo protocolo de atendimento a ser utilizado especialmente no período endêmico, sendo esse conduzido pela doença mais grave. Na fase não endêmica, que sejam adotados protocolos específicos para cada uma das doenças, lembrando ainda que o Rio de Janeiro possui um plano de contingência para doenças sistêmicas, já prevendo o pior cenário para 2017.

Por fim, o diretor da Fiocruz Mato Grosso do Sul, Rivaldo Venâncio, fez um alerta para o fato de que, com a epidemia da chikungunya, não só a rede pública será afetada. “Após a primeira onda da epidemia, podemos esperar uma soropositividade de 20% nas pessoas, sendo que 2/3 desse total se manifestará efetivamente como doença. E isso vai refletir também na rede privada. Ela estará preparada? Temos todos que estar prontos para o que está por vir. É vital organizar toda nossa rede, embora esse seja um problema nacional. Só atuamos quando a epidemia explode e isso é um grande erro de nossos gestores”, concluiu.